quinta-feira, 4 de abril de 2019

Deficiência de Biotinidase: saiba mais

A deficiência de biotinidase é um erro inato do metabolismo, de causa genética, caracterizada pelo mau funcionamento de uma enzima. Enzimas são proteínas responsáveis por auxiliar o organismo a realizar diversas reações químicas, como a digestão de alimentos, a retirada de substâncias tóxicas e a obtenção de energia para o adequado funcionamento cerebral.


No caso desta doença, a enzima que tem o funcionamento comprometido se chama biotinidase. Ela é responsável por separar e liberar a vitamina biotina dos alimentos (vitamina B7 ou B8). Uma vez livre, a biotina auxilia outras enzimas na quebra de algumas gorduras, carboidratos e proteínas. A biotinidase também recicla a biotina, permitindo a reutilização da vitamina pelo organismo. Assim, não é preciso ingerir grandes quantidades da biotina pelos alimentos.

Quando a enzima biotinidase não funciona adequadamente, ou seja, quando ela tem a atividade deficiente, a liberação da vitamina biotina também é prejudicada. A vitamina não consegue ser liberada dos alimentos e, por isso, não é utilizada pelo organismo. Para compensar a falta dessa enzima, o corpo precisa de grandes quantidades da vitamina biotina já livre.

A deficiência de biotinidase pode ser classificada como parcial ou profunda, dependendo do nível de comprometimento da atividade enzimática.

Quanto mais cedo a deficiência de biotinidase for diagnosticada, mais rápido é iniciado o tratamento com reposição da vitamina biotina livre e menos chances terá a criança de manifestar os sinais e sintomas características da doença.

Por esse motivo, o exame de triagem neonatal (ou teste do pezinho), realizado em todos os recém-nascidos é fundamental para o diagnóstico precoce, ainda antes de haver qualquer tipo de manifestação clínica.

A prevalência da deficiência de biotinidase pode variar de acordo com a população estudada. No Brasil, estima-se uma incidência aproximada de 1 criança acometida para cada 60.000 nascidos.


Diagnóstico:

O diagnóstico precoce da deficiência de biotinidase só é possível pela realização do exame de triagem neonatal (teste do pezinho). Este exame laboratorial, coletado entre o 3º e o 5º dia de vida, permite avaliar o nível da atividade da enzima biotinidase.

O resultado positivo indica que a atividade da enzima está baixa, o que representa suspeita para a doença. Neste caso, nova amostra de sangue em papel filtro deve ser colhida. Diante de um segundo resultado alterado, a criança é encaminhada para consulta médica e o tratamento já é iniciado.

No terceiro mês de vida, uma nova amostra de sangue é colhida para confirmar ou afastar a suspeita de deficiência de biotinidase a partir de um teste quantitativo.

Os resultados do teste quantitativo podem apontar:
  • Deficiência de biotinidase profunda: atividade da enzima menor que 10% da atividade média normal.
  • Deficiência de biotinidase parcial: atividade da enzima encontra-se entre 10% a 30% da atividade média normal.
  • Atividade reduzida porém sem deficiência (neste caso não há indicação de tratamento, mas é importante procurar atendimento com um médico geneticista para aconselhamento genético e investigação adequada).
Importante! O diagnóstico torna possível o início imediato do tratamento, o que evita a manifestação da doença e garante que a criança cresça e se desenvolva normalmente.

Os pacientes com testes de triagem alterados (parcial ou total), identificados pela análise da enzima biotina, serão classificados como suspeitos até a confirmação ou não do diagnóstico, que será estabelecido a partir do teste quantitativo da atividade de biotinidase, podendo ser ou não complementado com estudo genético-molecular, para detecção de mutações no gene da biotinidase (gene BTD) localizado no cromossomo 3p25.


Sinais e sintomas:

Caso não tratada, a deficiência de biotinidase geralmente manifesta-se a partir do terceiro mês de vida com distúrbios neurológicos e cutâneos tais como crises epiléticas, hipotonia, microcefalia, atraso do desenvolvimento neuropsicomotor, alopecia e dermatite eczematoide. Nos pacientes com diagnóstico tardio podem observar-se, distúrbios visuais, auditivos, assim como atraso motor e de linguagem.

Algumas das manifestações clínicas (em caso de não-tratamento ou tratamento tardio) incluem:
  • Atraso de desenvolvimento
  • Convulsões
  • Problemas respiratórios: apnéia (ausência de respiração), taquipnéia (respiração rápida), hiperventilação, respiração ruidosa
  • Problemas de pele: seborreia, dermatite, erupções de pele
  • Queda de cabelo parcial ou total (alopécia)
  • Hepatoesplenomegalia (aumento do fígado e do baço)
  • Perdas de audição e visão
  • Problemas na fala
  • Problemas na coordenação dos movimentos (ataxia)
  • Infecções repetidas
  • Hipotonia (tônus muscular reduzido)
  • Letargia (sensibilidade e funcionamento motor lentos)
  • Acidemia láctica (acúmulo de ácido lático no organismo)
  • Coma

E depois da confirmação? Como tratar?

O tratamento da deficiência de biotinidase consiste na ingestão oral da vitamina biotina, por toda a vida. A dose determinada é de 10 mg por dia, tanto nos casos de deficiência total como deficiência parcial.

Na primeira consulta médica, antes mesmo da confirmação diagnóstica pelo teste quantitativo, o tratamento com a biotina já é iniciado. De modo geral, a ingestão de biotina não ocasiona efeitos colaterais.

O diagnóstico precoce, com o início do tratamento ainda nos primeiros meses de vida, assegura ao bebê uma vida normal sem qualquer sintoma da doença. Em crianças diagnosticadas precocemente, o uso de biotina preveniu as anormalidades clínicas e bioquímicas. Estudos demonstram que quanto mais precocemente o tratamento é instituído, melhor é a resposta clínica.

Não há nenhum outro cuidado específico além da reposição com a vitamina e do acompanhamento médico regular. Sugere-se que o acompanhamento com um médico pediatra ou geneticista com experiência no tratamento de erros inatos do metabolismo, em geral com a seguinte periodicidade de consultas médicas, podendo haver variações caso a caso:
  • Até um ano de vida: a cada três meses
  • De um a dois anos: a cada seis meses
  • Acima de dois anos: consultas anuais

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