A deficiência de biotinidase é um erro inato do metabolismo, de causa genética, caracterizada pelo mau funcionamento de uma enzima. Enzimas são proteínas responsáveis por auxiliar o organismo a realizar diversas reações químicas, como a digestão de alimentos, a retirada de substâncias tóxicas e a obtenção de energia para o adequado funcionamento cerebral.
No caso desta doença, a enzima que tem o funcionamento comprometido se chama biotinidase. Ela é responsável por separar e liberar a vitamina biotina dos alimentos (vitamina B7 ou B8). Uma vez livre, a biotina auxilia outras enzimas na quebra de algumas gorduras, carboidratos e proteínas. A biotinidase também recicla a biotina, permitindo a reutilização da vitamina pelo organismo. Assim, não é preciso ingerir grandes quantidades da biotina pelos alimentos.
Quando a enzima biotinidase não funciona adequadamente, ou seja, quando ela tem a atividade deficiente, a liberação da vitamina biotina também é prejudicada. A vitamina não consegue ser liberada dos alimentos e, por isso, não é utilizada pelo organismo. Para compensar a falta dessa enzima, o corpo precisa de grandes quantidades da vitamina biotina já livre.
A deficiência de biotinidase pode ser classificada como parcial ou profunda, dependendo do nível de comprometimento da atividade enzimática.
Quanto mais cedo a deficiência de biotinidase for diagnosticada, mais rápido é iniciado o tratamento com reposição da vitamina biotina livre e menos chances terá a criança de manifestar os sinais e sintomas características da doença.
Por esse motivo, o exame de triagem neonatal (ou teste do pezinho), realizado em todos os recém-nascidos é fundamental para o diagnóstico precoce, ainda antes de haver qualquer tipo de manifestação clínica.
A prevalência da deficiência de biotinidase pode variar de acordo com a população estudada. No Brasil, estima-se uma incidência aproximada de 1 criança acometida para cada 60.000 nascidos.
Diagnóstico:
O diagnóstico precoce da deficiência de biotinidase só é possível pela realização do exame de triagem neonatal (teste do pezinho). Este exame laboratorial, coletado entre o 3º e o 5º dia de vida, permite avaliar o nível da atividade da enzima biotinidase.
O resultado positivo indica que a atividade da enzima está baixa, o que representa suspeita para a doença. Neste caso, nova amostra de sangue em papel filtro deve ser colhida. Diante de um segundo resultado alterado, a criança é encaminhada para consulta médica e o tratamento já é iniciado.
No terceiro mês de vida, uma nova amostra de sangue é colhida para confirmar ou afastar a suspeita de deficiência de biotinidase a partir de um teste quantitativo.
Os resultados do teste quantitativo podem apontar:
- Deficiência de biotinidase profunda: atividade da enzima menor que 10% da atividade média normal.
- Deficiência de biotinidase parcial: atividade da enzima encontra-se entre 10% a 30% da atividade média normal.
- Atividade reduzida porém sem deficiência (neste caso não há indicação de tratamento, mas é importante procurar atendimento com um médico geneticista para aconselhamento genético e investigação adequada).
Importante! O diagnóstico torna possível o início imediato do tratamento, o que evita a manifestação da doença e garante que a criança cresça e se desenvolva normalmente.
Os pacientes com testes de triagem alterados (parcial ou total), identificados pela análise da enzima biotina, serão classificados como suspeitos até a confirmação ou não do diagnóstico, que será estabelecido a partir do teste quantitativo da atividade de biotinidase, podendo ser ou não complementado com estudo genético-molecular, para detecção de mutações no gene da biotinidase (gene BTD) localizado no cromossomo 3p25.
Sinais e sintomas:
Caso não tratada, a deficiência de biotinidase geralmente manifesta-se a partir do terceiro mês de vida com distúrbios neurológicos e cutâneos tais como crises epiléticas, hipotonia, microcefalia, atraso do desenvolvimento neuropsicomotor, alopecia e dermatite eczematoide. Nos pacientes com diagnóstico tardio podem observar-se, distúrbios visuais, auditivos, assim como atraso motor e de linguagem.
Algumas das manifestações clínicas (em caso de não-tratamento ou tratamento tardio) incluem:
- Atraso de desenvolvimento
- Convulsões
- Problemas respiratórios: apnéia (ausência de respiração), taquipnéia (respiração rápida), hiperventilação, respiração ruidosa
- Problemas de pele: seborreia, dermatite, erupções de pele
- Queda de cabelo parcial ou total (alopécia)
- Hepatoesplenomegalia (aumento do fígado e do baço)
- Perdas de audição e visão
- Problemas na fala
- Problemas na coordenação dos movimentos (ataxia)
- Infecções repetidas
- Hipotonia (tônus muscular reduzido)
- Letargia (sensibilidade e funcionamento motor lentos)
- Acidemia láctica (acúmulo de ácido lático no organismo)
- Coma
E depois da confirmação? Como tratar?
O tratamento da deficiência de biotinidase consiste na ingestão oral da vitamina biotina, por toda a vida. A dose determinada é de 10 mg por dia, tanto nos casos de deficiência total como deficiência parcial.
Na primeira consulta médica, antes mesmo da confirmação diagnóstica pelo teste quantitativo, o tratamento com a biotina já é iniciado. De modo geral, a ingestão de biotina não ocasiona efeitos colaterais.
O diagnóstico precoce, com o início do tratamento ainda nos primeiros meses de vida, assegura ao bebê uma vida normal sem qualquer sintoma da doença. Em crianças diagnosticadas precocemente, o uso de biotina preveniu as anormalidades clínicas e bioquímicas. Estudos demonstram que quanto mais precocemente o tratamento é instituído, melhor é a resposta clínica.
Não há nenhum outro cuidado específico além da reposição com a vitamina e do acompanhamento médico regular. Sugere-se que o acompanhamento com um médico pediatra ou geneticista com experiência no tratamento de erros inatos do metabolismo, em geral com a seguinte periodicidade de consultas médicas, podendo haver variações caso a caso:
- Até um ano de vida: a cada três meses
- De um a dois anos: a cada seis meses
- Acima de dois anos: consultas anuais
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